A fabricante argentina Aero Boero surgiu como Aero Talleres Boero (Oficinas Aero Boero, em português), fundada pela família Boero em maio de 1956, na cidade de Morteros, região noroeste da província de Córdoba, na Argentina, para realizar serviços de manutenção e reparos em diversas aeronaves, utilizadas principalmente na pulverização de lavouras.
Os irmãos César Hernesto e Héctor Boero acumularam muita experiência na reconstrução de algumas partes de aeronaves, sendo que alguns aviões necessitavam ser reconstruídos após acidentes, o que os levou a construir muitas fuselagens de tubos de aço soldados, além de asas e de realizar a pintura total de aviões. E foi após a realização desses serviços que os irmãos Boero resolveram partir para o desenvolvimento e fabricação de aeronaves próprias em 1958, com o amparo de uma nova legislação protecionista argentina.
César e Héctor Boero uniram-se a Celestino Barale para desenvolver um protótipo do futuro Aero Boero AB-95, o antecessor do Aero Boero AB-115, que voou pela primeira vez em 1959 e foi certificado em 1962, quando foi iniciada a produção em série. As primeiras entregas foram feitas um ano depois. Com o aumento da demanda, a fábrica foi ampliada e a empresa reorganizada em 1975, após ser capitalizada, e a antiga Aero Talleres Boero Sociedad de Responsabilidad Limitada se transforrnou em Aero Boero Sociedad Anónima, permanecendo o controle acionista com a família Boero.
Em 20 de outubro de 1978, a cidade de Morteros foi atingida por um ciclone, que destruiu o galpão da Aero Boero. Além disso, foram perdidos dez aviões, o protótipo quase finalizado do AB-260 e seus exemplares em construção. Os problemas não pararam por aí, pois a empresa deveria cumprir o prazo de entrega de diversas aeronaves, obrigando a empresa a construir imediatamente um novo local para produzir as aeronaves encomendadas, localizado na região sul de Morteros.
Ao mesmo tempo, foi reconstruído o galpão destruído e a fabricação foi retomada de forma precária, e a fábrica foi sendo transferida aos poucos para a nova unidade fabril, inaugurada oficialmente em outubro de 1981. O novo galpão tinha 2.000 metros quadrados e recebia onze seções: Usinagem, solda, asa, entelagem, plásticos, pintura, jateamento, montagem, motores, manutenção e armazenagem. Também foi construído um banco de provas de motores em 1983, quando a empresa contava com 30 funcionários. Em 1987, praticamente toda a produção era absorvida pelo mercado interno argentino.
Os clientes principais eram aeroclubes e clubes de planadores, que recebiam subvenções estatais, além de empresas de pulverização agrícola, por ter baixo custo operacional, mas, no mesmo ano, a economia argentina entrou em crise, com altos índices de inflação, praticamente inviabilizando as vendas no mercado interno. Ao mesmo tempo, o custo com mão-de-obra caiu e a empresa iniciou uma campanha agressiva para alavancar as vendas no exterior, o que levou o Brasil a comprar os seus aviões. Para cumprir os prazos de entrega dos aviões encomendados pelo governo brasileiro, foi construída uma nova unidade fabril na cidade de San Francisco, onde eram produzidos diversos componentes estruturais, e foi contratada uma rede de empresas terceirizadas, além de diversos novos funcionários.
Em 1989, foi acertada a venda de 108 AB-115 Trainer para o Peru, sendo um primeiro lote de 24 unidades e mais três lotes anuais de 28 aeronaves, cada um. O contrato foi logo rompido pelo governo peruano, que não tinha como pagar os aviões, pois o país andino havia acabado de mergulhar em uma crise financeira. Contratos com Argélia e Paquistão fizeram a Aero Boero subcontratar empresas de países da ex-União Soviética para fabricação de células, pois a mão-de-obra desses países era mais barata do que na Argentina.
Os negócios com o Brasil começaram a se tornar inviáveis e, logo depois, houve o cancelamento da entrega de 84 aeronaves, pois o governo brasileiro não tinha como pagar a empresa argentina, pois vivia uma grave crise econômica desde 1993. A hiperinflação argentina deu origem a lei de conversibilidade, que transformou a Argentina em um país caro, com o agravante da eliminação total de subsídios e subvenções estatais e, em pouco tempo, a Aero Boero deixou de ser uma empresa exportadora para se tornar uma companhia sem trabalho.
Em 1991, a Aero Boero resolveu fazer um estudo e mercado para iniciar a produção de uma aeronave de maior valor agregado. A empresa comprou um monomotor Grob G-115 para tentar fabricá-lo sob licença do fabricante alemão. A Aero Boero teve muitas dificuldades para homologar e certificar o modelo e abandonou o projeto em 1993. O avião voltou para a Alemanha em janeiro de 1994. No final da década de 1990, a Aero Boero fazia apenas alguns serviços de reconstrução de aeronaves, além de vender alguns componentes para reposição. Em 2000 seriam homologados os modelos AB-115 Trainer e AB-180RVR na Europa, que deveriam ser fabricados sob licença, mas isso nunca aconteceu.
Ao contrário do que muitas pessoas pensam, a Aero Boero continua existindo, porém, de forma inativa, apenas vendendo peças para manter seus aviões operacionais e tentando voltar a fabricar aeronaves.
Fonte: Aviação Paulista
Por: Valdemar Júnior
Foto: Robert Domandl, Gabriel Luque
Os irmãos César Hernesto e Héctor Boero acumularam muita experiência na reconstrução de algumas partes de aeronaves, sendo que alguns aviões necessitavam ser reconstruídos após acidentes, o que os levou a construir muitas fuselagens de tubos de aço soldados, além de asas e de realizar a pintura total de aviões. E foi após a realização desses serviços que os irmãos Boero resolveram partir para o desenvolvimento e fabricação de aeronaves próprias em 1958, com o amparo de uma nova legislação protecionista argentina.
César e Héctor Boero uniram-se a Celestino Barale para desenvolver um protótipo do futuro Aero Boero AB-95, o antecessor do Aero Boero AB-115, que voou pela primeira vez em 1959 e foi certificado em 1962, quando foi iniciada a produção em série. As primeiras entregas foram feitas um ano depois. Com o aumento da demanda, a fábrica foi ampliada e a empresa reorganizada em 1975, após ser capitalizada, e a antiga Aero Talleres Boero Sociedad de Responsabilidad Limitada se transforrnou em Aero Boero Sociedad Anónima, permanecendo o controle acionista com a família Boero.
Em 20 de outubro de 1978, a cidade de Morteros foi atingida por um ciclone, que destruiu o galpão da Aero Boero. Além disso, foram perdidos dez aviões, o protótipo quase finalizado do AB-260 e seus exemplares em construção. Os problemas não pararam por aí, pois a empresa deveria cumprir o prazo de entrega de diversas aeronaves, obrigando a empresa a construir imediatamente um novo local para produzir as aeronaves encomendadas, localizado na região sul de Morteros.
Ao mesmo tempo, foi reconstruído o galpão destruído e a fabricação foi retomada de forma precária, e a fábrica foi sendo transferida aos poucos para a nova unidade fabril, inaugurada oficialmente em outubro de 1981. O novo galpão tinha 2.000 metros quadrados e recebia onze seções: Usinagem, solda, asa, entelagem, plásticos, pintura, jateamento, montagem, motores, manutenção e armazenagem. Também foi construído um banco de provas de motores em 1983, quando a empresa contava com 30 funcionários. Em 1987, praticamente toda a produção era absorvida pelo mercado interno argentino.
Os clientes principais eram aeroclubes e clubes de planadores, que recebiam subvenções estatais, além de empresas de pulverização agrícola, por ter baixo custo operacional, mas, no mesmo ano, a economia argentina entrou em crise, com altos índices de inflação, praticamente inviabilizando as vendas no mercado interno. Ao mesmo tempo, o custo com mão-de-obra caiu e a empresa iniciou uma campanha agressiva para alavancar as vendas no exterior, o que levou o Brasil a comprar os seus aviões. Para cumprir os prazos de entrega dos aviões encomendados pelo governo brasileiro, foi construída uma nova unidade fabril na cidade de San Francisco, onde eram produzidos diversos componentes estruturais, e foi contratada uma rede de empresas terceirizadas, além de diversos novos funcionários.
Em 1989, foi acertada a venda de 108 AB-115 Trainer para o Peru, sendo um primeiro lote de 24 unidades e mais três lotes anuais de 28 aeronaves, cada um. O contrato foi logo rompido pelo governo peruano, que não tinha como pagar os aviões, pois o país andino havia acabado de mergulhar em uma crise financeira. Contratos com Argélia e Paquistão fizeram a Aero Boero subcontratar empresas de países da ex-União Soviética para fabricação de células, pois a mão-de-obra desses países era mais barata do que na Argentina.
Os negócios com o Brasil começaram a se tornar inviáveis e, logo depois, houve o cancelamento da entrega de 84 aeronaves, pois o governo brasileiro não tinha como pagar a empresa argentina, pois vivia uma grave crise econômica desde 1993. A hiperinflação argentina deu origem a lei de conversibilidade, que transformou a Argentina em um país caro, com o agravante da eliminação total de subsídios e subvenções estatais e, em pouco tempo, a Aero Boero deixou de ser uma empresa exportadora para se tornar uma companhia sem trabalho.
Em 1991, a Aero Boero resolveu fazer um estudo e mercado para iniciar a produção de uma aeronave de maior valor agregado. A empresa comprou um monomotor Grob G-115 para tentar fabricá-lo sob licença do fabricante alemão. A Aero Boero teve muitas dificuldades para homologar e certificar o modelo e abandonou o projeto em 1993. O avião voltou para a Alemanha em janeiro de 1994. No final da década de 1990, a Aero Boero fazia apenas alguns serviços de reconstrução de aeronaves, além de vender alguns componentes para reposição. Em 2000 seriam homologados os modelos AB-115 Trainer e AB-180RVR na Europa, que deveriam ser fabricados sob licença, mas isso nunca aconteceu.
Ao contrário do que muitas pessoas pensam, a Aero Boero continua existindo, porém, de forma inativa, apenas vendendo peças para manter seus aviões operacionais e tentando voltar a fabricar aeronaves.
Fonte: Aviação Paulista
Por: Valdemar Júnior
Foto: Robert Domandl, Gabriel Luque
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